Mais de 60 escolas privadas de uma organização fundada pelos donos da Microsoft e do Facebook têm ordem para encerrar suas atividades. Autoridades de Uganda acham-nas insalubres e sem qualificações.
Fonte: TVI 24
Dura e promete continuar acesa a disputa entre o governo ugandês e a Bridge International Academies, uma associação que tem entre os fundadores os multimilionários norte-americanos Bill Gates, da Microsoft, e Mark Zuckerberg, “patrão” do Facebook. Em causa estão as 63 escolas que a organização mantém naquele país africano, que têm ordem para encerrar suas atividades até 8 de dezembro.
A data consta da última decisão de um tribunal superior de Uganda e foi decidida de forma que os 12 mil alunos que frequentam as escolas possam concluir o terceiro período letivo. Quanto ao resto, naquele que é o mais recente episódio de uma batalha jurídica que já vem de há muito, o tribunal considera que as escolas da Bridge são insalubres, não têm qualificações e muito menos estão licenciadas. Ou seja, não servem e põem em causa “a vida e a segurança” dos 12 mil alunos que as frequentam.
Leia também: La reacción de las organizaciones de derechos humanos ante el cierre de las escuelas Bridge en Uganda (em espanhol)
“Não se sabe o que se ensina nessas escolas”
Uma anterior decisão dos tribunais ugandeses para o encerramento das escolas tinha ficado em suspenso através de um recurso da organização Bridge, que também não está propriamente nas graças do governo do país, localizado no leste do continente africano.
Ao site da cadeia de televisão norte-americana CNN, o diretor de Educação de Uganda sustentou que as creches e escolas primárias da Bridge não estavam licenciadas, que os professores não tinham qualificações e que não havia registo de que os currículos escolares tivessem sido aprovados.
O ministério não sabe o que está a ser ensinado nessas escolas, o que é motivo de preocupação para o governo”, assumiu Huzaifa Mutazindwa.
Do outro lado do diferendo, a Bridge, que mantém cerca de 400 escolas de baixo custo em África, contesta os argumentos do governo. Garante que são lecionados os currículos aprovados em Uganda, que as suas escolas têm boas condições sanitárias e que a maioria dos professores tem qualificações.
“Há uma falta de comunicação e uma grande quantidade de sérias e infundadas acusações. Gostaríamos que nos dessem uma oportunidade de nos explicarmos. Mas o ministério não tem mostrado vontade de nos conceder uma audiência para colocar tudo em pratos limpos”, salientou o diretor da Bridge em Uganda, Andrew White, à CNN.
Seis dólares por mês para “lucrar com os pobres”
A presença da Bridge e de suas escolas em Uganda tem sido alvo de críticas por parte de várias organizações não-governamentais, que acusam a organização de perseguir o lucro. Até porque cada criança paga seis dólares por mês, o que pesa na sobrevivência dos que têm menos recursos num país onde 20% da população vive abaixo do limiar da pobreza.
“Os pobres são pessoas que conseguem tomar decisões conscientes de onde gastar o dinheiro que tanto lhes custou a ganhar”, é a resposta às críticas por parte do diretor da Bridge, para quem, a organização “existe para dar resposta a milhares de pais que não têm uma opção adequada de educação para os seus filhos”.
Os argumentos não convencem porém toda a gente. Nem ao governo de Uganda, nem a algumas organizações não-governamentais, caso da Campanha Mundial pela Educação (CME), liderada por Camilla Croso, para quem as escolas da Bridge são “totalmente inadequadas e e inaceitáveis”.
“Eles estão a lucrar imenso com isto. É muito indecente porque estão a olhar para as pessoas pobres como um mercado lucrativo”, afirmou.